Confesso ter ficado com saudade de entrevistar alguém que contribui de forma significante para a cultura de vestuário em Brasilia. O novo entrevistado foi o fotógrafo de moda Christian Philips.
Nós do blog sempre pensamos que o cara era de outro país, pelo fato de ter muita perícia com a moda Underground. Podemos ver tal conhecimento nas fotos e no estilo pessoal dele. Mas não, ele é desse cerrado meio sem-graça chamado Brasília mesmo.
Abaixo o papo que trocamos com ele:
1 – Definir o streetwear Brasíliense em geral, chega a ser deprimente. O que você acha que seria necessário para que se crie uma cultura de vestuário massificada de uma forma positiva, assim como se pode encontrar em Brixton – UK ou no lado Underground de NYC?
R: É preciso uma mudança de mentalidade. O brasileiro ainda é muito
preconceituoso e não aceita quem é muito diferente. As pessoas
preferem continuar se vestindo seguindo os papéis sociais
tradicionais, em vez de fugir do padrão. É muito mais conveniente se
misturar na multidão. Isso é ainda mais evidente do caso do vestuário
masculino. A maior parte dos homens no Brasil tem medo de serem
enquadrados como femininos. Poder ostentar uma masculinidade é algo
desejado até mesmo entre os homossexuais, que discriminam quem assume
sua sexualidade de forma descarada.
Há outros dois problemas que precisam ser resolvidos aqui. Primeiro,
o brasileiro precisa buscar mais informação de moda na hora de se
vestir. Também é necessário que a moda seja democratizada. Não dá pra
se vestir bem no Brasil gastando pouco. O primeiro passo é abrir lojas
decentes de fast-fashion. Apesar de algumas lojas de departamento no
Brasil estarem tomando esse caminho, ainda não temos nada parecido
como uma H&M ou Topshop.
2 – O “Booom” dos blogs está começando a se tornar um clichê, o que na
sua opinião, salvaria essa formato de passar informação de moda?
R: Vivemos em um momento em que tudo tem a obrigação de ser instantâneo.
As coberturas das semanas de moda, por exemplo, são publicadas quase
que imediatamente depois que algo importante acontece no evento. É uma
disputa por informação, onde ganha quem divulgar primeiro. Isso é
bastante perigoso. Não há tempo de se processar o ocorrido e a ênfase
passa a ser na quantidade. Apesar dos blogs se encaixarem bem nesse
tipo de jornalismo rápido (exatamente por serem diários virtuais), vai
ser muito positivo quando essa obrigação de ser veloz for deixada de
lado. Os blogs deveriam se preocupar mais em fazer algo de qualidade.
Outra atitude que me incomoda é a preocupação em ser diplomático
demais. Isso é pior com os grandes sites, onde o conteúdo deve agradar
os anunciantes. Mas acontece com blogs de moda também, que, pra
crescer, precisam de apoio. O jornalismo de moda em geral é muito
pouco crítico. Quando alguém comenta um desfile, por exemplo, é muito
mais fácil usar palavras chaves bonitas pra deixar o texto com
aparência de texto padrão de moda, do que realmente entender a
proposta do estilista, contextualizar a coleção e criticar tudo de
forma inteligente.
3 – Escolha 3 peças que tenham o poder de transformar um “fashionista
emergente” nos chamados “Fashion Victim” :
R:
-Legging
-Cachecol
-Calça saruel
4 – Sua relação com a moda começou de qual forma? E qual foi sua
primeira aquisição fashion?
R: Surgiu junto com meu interesse pela fotografia, quando eu marcava praticar foto com meus amigos. Antes a gente fazia algo bem espontâneo e natural, mas, com o tempo, passamos a querer fazer algumas sessões mais planejadas. As roupas passaram a ser parte fundamental disso e foi quando eu percebi que queria trabalhar com fotografia de moda. Mas eu não lembro exatamente qual foi minha primeira aquisição.
5 – Um filme que influenciou no estilo de rua de um determinado lugar?
R:Não tenho conhecimento sobre o assunto.
6 – Uma festa na qual você não viveria sem?
R: Apesar de freqüentar festas toda semana, eu viveria muito feliz sem isso. Ainda maisem Brasília. Nãotem nenhuma festa aqui que euconsidere imperdível. Até o circuito alternativo tem se tornado pouco interessante. Não agüento mais gente mal vestida dançando Lady Gaga.
7 – Um estilista de Brasília que conquistou seu gosto pessoal?
R: É claro que por eu ser um amigo próximo do Yuri Pardi, a gente tem
muito interesse em comum e isso faz com que eu me identifique muito
com o trabalho dele. Também admiro o Sann Marcuccy.
8 – A fotografia é a forma mais forte de se transmitir informação de
moda. Cite 5 locações em Brasília que tem potencial para um bom
editorial de moda outsider?
R: Lugares que não pareçam Brasília. Todos os pontos turísticos daqui já
são mais do que clichês pra qualquer editorial.
9 -Melhor banda do mundo, na sua opinião?
R: Queen.
10 – Como de costume, fazemos ao entrevistado uma pergunta narcisista.
Qual foi a primeira impressão que você teve acerca do CoolHype 😀 ?
R: É legal ver gente nova como vocês tentando fazer algo diferente em
Brasília. Vocês têm a atitude certa pra fazer com que o blog ocupe um
espaço importante aqui. Eu confesso que não gosto muito do nome,
porque parece um pouco auto-afirmação. Mas vocês são muito
interessados pelo assunto e isso faz toda diferença.
Algumas fotos “clicadas” pelo fera:
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